A gestão de pessoas das organizações enfrenta um momento crítico: os modelos tradicionais não são mais suficientes para reagir à volatilidade do mercado e às necessidades das pessoas, principalmente na realidade de grandes corporações. Diante disso, surge a necessidade de uma abordagem mais adaptável, centrada em habilidades, tecnologia e na conexão genuína com os colaboradores. Portanto, torna-se essencial explorar e entender os desafios e tendências de gestão de talentos esperados no curto prazo.
Para aprofundar essa discussão, conversamos com algumas lideranças e especialistas no tema, parceiras da acaso, como Fernanda Coutinho, Talent Sr Director no Nubank, e Karin Souza, HR BP na BASF. A partir dessas trocas, compilamos os 3 desafios e 5 tendências de gestão de talentos que devem moldar o futuro próximo do RH.
Preparação de lideranças para uma nova mentalidade organizacional
Primeiramente, lideranças e equipes de RH precisam se capacitar para gerenciar modelos mais flexíveis, impulsionados por tecnologia e dados. Fernanda Coutinho destaca que o desafio desse alinhamento entre desenvolvimento de habilidades e tomada de decisão é crucial para transformar o design organizacional:
“Sem vencer essa camada, é muito difícil evoluir dos modelos tradicionais que não são mais totalmente capazes de reagir às mudanças de mercado e necessidades das pessoas e estratégia.” – afirmou Fernanda Coutinho.
Além disso, há a necessidade urgente de superar a complexidade multigeracional. Como pontua Karin Souza:
“O que eu tenho aprendido nessa jornada é que a liderança e o RH precisam ter uma forma de gestão capaz de oferecer para cada um desses perfis e gerações, oportunidades adaptadas e personalizadas.”
Trabalhar com cinco gerações simultaneamente (da Geração Silenciosa à Geração Z) é desafiador, mas pode ser transformador se a gestão for capaz de respeitar e alocar o potencial único de cada profissional.
Conciliação de expectativas organizacionais com individuais
Um dos maiores desafios da gestão de talentos é alinhar as aspirações individuais dos colaboradores com as metas organizacionais. Segundo o LinkedIn Workplace Learning Report, jornadas de aprendizado que focam nos objetivos de carreira têm engajamento 4x maior. Assim, esse alinhamento fortalece a conexão entre o colaborador e a empresa, aumentando a satisfação e produtividade.
“Organizações muitas vezes perdem talentos por falta de velocidade em identificar ou criar oportunidades. O profissional está pronto e motivado, mas a empresa ainda não tem o espaço ou a estrutura para atendê-lo, e nem sempre ele terá a paciência para esperar. Isso evidencia a complexidade da gestão entre equilibrar as necessidades estratégicas da organização e as expectativas dos colaboradores.” – Karin Souza
Integração de tecnologia para potencializar habilidades humanas
Ricardo Rocha, CEO da acaso, é enfático sobre o papel da tecnologia e da inteligência artificial como aliadas no desenvolvimento humano. Segundo ele:
“A IA já é realidade nas empresas e, para a gestão de talentos, apoia o RH em decisões mais assertivas, ágeis e orientadas por dados. Ela ajuda a focar nas nossas habilidades humanas, se implementada da maneira ideal”
Ou seja, o uso de IA é crucial para mapear habilidades e conectar pessoas às oportunidades de trabalho que realmente aproximem ao seu potencial máximo.
Fernanda Coutinho falou sobre como a tecnologia possibilita uma inteligência de talentos escalável, que permite às corporações gerenciar recrutamento, engajamento e desenvolvimento (Find, Keep and Grow) de forma eficiente, baseada em dados.
Tendências do futuro próximo do RH
1. Foco nas habilidades
É essencial “alfabetizar” as equipes em relação ao que são habilidades e como elas impulsionam o negócio. Na conversa com Fernanda Coutinho, ela ressaltou que esse movimento começa, primeiramente, com o preparo de lideranças e RHs, antes de realmente chegar nos colaboradores.
Priorizar as habilidades para tomadas de decisão em todo o ciclo do talento não só favorece uma rede de trabalho ágil, mas também promove um foco constante no desenvolvimento. Além disso, essa abordagem prepara a organização para responder de forma eficiente aos desafios e transições estratégicas que surgirem.
O futuro do trabalho é skill-based. Como disse Ricardo Rocha em uma entrevista para a Forbes:
“Tem que ser baseado em pôr as pessoas certas nos lugares certos, sendo desenvolvidas para os lugares de maior potencial delas.”
2. Gestão de aprendizado e colaboração
As organizações precisam criar um ambiente que incentive o aprendizado contínuo e a troca de conhecimento. Como ressalta Karin Souza:
“É preciso estar aberto a aprender novas habilidades ou se associar a pessoas que dominam aquilo que você ainda não sabe. Esse mindset é essencial para superar desafios. As organizações devem comunicar essa visão claramente, e os colaboradores precisam abraçar essa ideia.”
Dessa forma, a cultura de colaboração fortalece as organizações, especialmente em momentos de mudança.
3. Diversidade e inclusão
Mais do que uma tendência, diversidade e inclusão são pilares centrais para empresas do futuro. Afinal, empresas que abraçam a diversidade, além de serem mais inovadoras, tendem a atrair e reter talentos de forma mais eficiente. De acordo com a PwC Brasil, 85% das empresas consideram que diversidade é um valor importante ou uma prioridade.
4. Cultura de adaptabilidade e flexibilidade
Em um mundo do trabalho cada vez mais complexo, um dos pontos mais convergentes entre as pessoas especialistas é que as organizações devem oferecer ambientes flexíveis, adaptando-se rapidamente às mudanças e eliminando silos que limitam o desenvolvimento. Para o colaborador, isso significa oportunidades de crescimento baseadas em suas habilidades reais, e não apenas em credenciais ou currículos.
5. Hiper personalização e IA avançada no RH
A IA permite conectar colaboradores a oportunidades de desenvolvimento e trabalho de maneira personalizada, ao mesmo tempo que otimiza a gestão de talentos.
Nesse contexto, é importante, mais do que nunca, reconhecer as particularidades de cada indivíduo e reforçar que pessoas diferentes possuem áreas de potencial distintas. Como destaca Ricardo Rocha, é essencial oferecer estímulos personalizados que atendam às necessidades específicas de cada um, de modo a permitir que cada pessoa trilhe uma jornada única e significativa.
Por outro lado, ao adotar tecnologias avançadas, as organizações conseguem não apenas escalar esses processos como também reduzir custos, tudo isso enquanto aumentam a precisão.
Esse cenário traz protagonismo para RH que tem papel de liderar o redirecionamento da lógica dos modelos organizacionais para as pessoas, como afirma Gary Bolles, sócio da acaso e Chair em Futuro do Trabalho na SingularityU, em um artigo de sua autoria sobre o papel do RH frente à IA:
“Mas o que as ferramentas de GenAI representam é uma oportunidade para o RH desenhar uma nova mesa: processos centrados nas pessoas que utilizem continuamente tecnologias de próxima geração para gerar valor para todos os stakeholders da organização.”
Capacidade de reação, personalização e skills
A partir dos principais desafios e tendências de gestão de talentos reunidos, é possível afirmar que 2025 exige uma combinação de flexibilidade organizacional, foco em habilidades e uso inteligente da tecnologia. Assim, a liderança e o RH têm um papel transformador: preparar empresas e pessoas para um futuro onde o potencial humano é o ativo mais valioso, o que representa uma mudança significativa na forma em como se entende e se gere os talentos.
Cresceu a necessidade de preparar as pessoas, cultural e tecnicamente, considerando as individualidades de cada uma, para desenvolver times que evoluam e se conectem continuamente, ao mesmo tempo que são capazes de reagir rapidamente a qualquer mudança exigida por desafios estratégicos e movimentações repentinas do mercado.
A acaso
A acaso é uma startup global que opera no Brasil e que possui como principal propósito ajudar pessoas e empresas a atingirem o seu máximo potencial por uma abordagem focada em habilidades. A startup desenvolve e aplica soluções de inteligência de skill-matching e conexões em rede que melhoram a eficiência e a produtividade de organizações. Desde a sua fundação, já atraiu mais de 50 empresas, como Santander, Ambev, Nubank, BASF e ESPM.
Autor
Vinicius Xavier