Você se lembra das máquinas de datilografia? E do fax? Nessa época, as informações iam e vinham, passando pelos colegas de trabalho e se perdendo com o tempo. Os relatórios vinham de fontes isoladas, como registros de papel, notas fiscais e pilhas de arquivos físicos. Não existia uma necessidade de armazenar dados além de uma sala cheia de pastas com os relatórios financeiros dos últimos anos.
No passado, entender quais produtos estavam em alta em um supermercado demandava horas de análise de inventário e vendas. Era preciso contar as prateleiras, abater o que foi consumido do estoque e avaliar as vendas do mês para ter uma estimativa se no mês seguinte, ao repor o produto, deveria disponibilizar mais ou menos daquele produto. Agora imagine isso para cada produto de um supermercado. Parece impraticável, não é?
No entanto, alguns visionários enxergaram uma oportunidade de organizar esse caos por meio da utilização de softwares de bancos de dados que organizam essas informações perdidas. Foi como encontrar ouro que estava sendo ignorado! Esse processo virou tendência, a tecnologia avançou e, hoje, a grande maioria das empresas conta com um oceano de dados, origem ao conceito de Big Data.
A revolução do Big Data
A grande mudança veio com a tecnologia digital, que permitiu registrar e organizar informações de maneira sistemática e em larga escala. Computadores e sensores começaram a capturar dados que antes passavam despercebidos ou eram impossíveis de armazenar. Com o surgimento de sistemas como bancos de dados, servidores e tecnologias em nuvem, tornou-se possível não apenas guardar essas informações, mas também analisá-las de maneira estruturada. Esse movimento é um reflexo do que sempre foi verdade: o mundo é rico em informações, mas apenas agora temos a capacidade de organizá-las, analisá-las e transformá-las em conhecimento aplicável.
Nossos dados são coletados o tempo inteiro. Desde um registro de CPF em uma farmácia, um cadastro em um supermercado, o histórico de solicitações para um seguro ou mesmo as preferências demonstradas em aplicativos de compras, ou redes sociais, alimentam um volume gigantesco de informações. Esses registros, aparentemente cotidianos, revelam comportamentos, padrões de consumo e até mesmo tendências emergentes.
Porém, esse excesso de informações supera, em muito, a capacidade humana de processá-las. É aqui que entra a inteligência artificial (IA) como uma divisora de águas. Enquanto os dados inundam as empresas, sua análise manual, devagar e sujeita a erros, torna-se uma limitação evidente. Felizmente, a IA oferece ferramentas para transformar o caos em clareza, convertendo dados brutos em insights acionáveis de maneira rápida e precisa. Ela consegue processar bilhões de dados em segundos, identificando padrões e prevendo tendências com muita precisão.
Do Big Data ao People Analytics
Hoje, conseguimos fazer uma análise de estoque, previsão de vendas, previsão de preços e detecção de fraudes em segundos. Essas tecnologias otimizam operações e melhoram a eficiência de processos comerciais e logísticos. No entanto, ao observar esse avanço, surge um questionamento intrigante: por que ainda insistimos em utilizar métodos tradicionais, muitas vezes manuais, para avaliar e gerir os talentos dentro das empresas?
Essa pergunta dá origem a um novo campo: o People Analytics. Essa abordagem combina dados sobre comportamento humano com tecnologias analíticas para ajudar as empresas a tomarem decisões mais informadas sobre sua força de trabalho, promovendo uma gestão de talentos mais eficaz e estratégica. Separei algumas aplicações que mostram como os dados estão transformando a gestão de talentos:
Documentação de reuniões
Conversas importantes em reuniões frequentemente não são documentadas, fazendo com que insights valiosos se percam. Feedbacks dados pela liderança muitas vezes ficam restritos à memória dos envolvidos, sem serem registrados em sistemas que poderiam transformar essas interações em ações de desenvolvimento.
Aproveitamento de potencial oculto
Além disso, treinamentos e cursos realizados por colaboradores são, muitas vezes, tratados como eventos isolados, sem conexão direta com os objetivos de carreira ou os planos da empresa. Às vezes, a empresa tem um funcionário tentando migrar de carreira e nem sabe disso, sendo que a própria empresa tem necessidade desse perfil.
Estratégias Personalizadas
Com uma visão mais ampla e detalhada sobre o talento disponível, os gestores têm a capacidade de desenvolver estratégias de crescimento e capacitação personalizadas. Isso inclui desde treinamentos direcionados até a criação de planos de carreira que alinhem as aspirações individuais às necessidades da empresa. Conforme a Pesquisa Global da Gartner, 53% das pessoas pedem desligamento por falta de perspectiva de desenvolvimento. Assim, algo que pode ser mitigado por ferramentas de dados e IA, que podem correlacionar habilidades individuais a necessidades específicas da empresa, preenchendo lacunas e promovendo sinergias.
Colaboradores Conectados
Em um mundo onde postamos tanto sobre nossas vidas, por que pessoas que trabalham juntas todos os dias não se conhecem? Segundo a pesquisa Gallup – State of the Global Workspace (2022), 79% das pessoas estão infelizes ou desengajadas com o seu trabalho. Além disso, o estímulo estratégico à colaboração e conexão pode ser determinante para a performance da organização. Ainda pela Gallup, a pesquisa “O custo de comunidades desconectadas” evidenciou que amizades impulsionam em 50% a satisfação com o trabalho, e pessoas que trabalham com um grande amigo são 7x mais engajadas.
Alocação de Talentos
Outra vantagem transformadora é a previsão de necessidades futuras. Segundo a pesquisa PwC’s 25th Annual Global CEO Survey (2023), 82% dos CEOs estão preocupados com a disponibilidade de habilidades-chave. Com a análise preditiva, empresas podem antecipar lacunas de competências e preparar suas equipes para atender às demandas emergentes. Isso inclui prever quais habilidades serão mais valorizadas no mercado ou ao adotar um direcionamento estratégico que necessita de novas skills no seu time.
Conclusão
A gestão de talentos nunca foi tão desafiadora quanto atualmente, percebemos isso também pelas tendências para o futuro próximo. Também, nunca houve tantas ferramentas disponíveis para facilitar esse processo. A combinação de Big Data e IA prova que os dados estão transformando a gestão de talentos, o modo como as empresas enxergam e desenvolvem seus colaboradores. Ao desbloquear o potencial oculto e oferecer visibilidade sobre o que antes era invisível, as organizações não apenas otimizam resultados, mas também criam um ambiente onde o talento pode prosperar em sua máxima potência.
A acaso
A acaso é uma startup global que opera no Brasil e que possui como principal propósito ajudar pessoas e empresas a atingirem o seu máximo potencial por uma abordagem focada em habilidades. A startup desenvolve e aplica soluções de inteligência de skill-matching e conexões em rede que melhoram a eficiência e a produtividade de organizações. Desde a sua fundação, já atraiu mais de 50 empresas, como Santander, Ambev, Nubank, BASF e ESPM.
Autor
Gustavo Mendes